sábado, 21 de abril de 2007

De volta à asa branca


Ísis Coelho é estudante de jornalismo na Universidade Mackenzie e está preparando um Trabalho de Graduação Interdisciplinar sobre a influência da música nordestina na cultura brasileira. Para dar uma ambientação à postagem, ouçam a música!




Luiz nasceu grande, apesar da seca que castigava a região. Por costume da época sua mãe o levou a uma cigana para que ela pudesse predizer seu futuro na esperança de que a vida de seu rebento fosse melhor do que a de sua progenitora. Januário, o pai, não gostava muito da idéia, mas também não queria ir contra a superstição da mulher e a acompanhou: “Ele será do mundo. Vai andar tanto, por cima e por baixo, que criará feridas nos pés”, predisse a cigana, com o cigarro de palha na boca e os trocados da consulta no bolso.

Aos sete anos, incentivado pelo pai, o maior tocador da região, Luiz tomou gosto pelo instrumento que o faria do mundo e mais, o Rei daquele ritmo que o encantava desde muito pequeno.

Mais velho e querendo ganhar uns trocados a mais, foi para o Rio de Janeiro tentar fama trazendo seu instrumento a tira colo. Tentava de todos os jeitos esconder sua origem nordestina e adaptar-se ao estilo de vida carioca, mas não pôde resistir aos pedidos de alguns estudantes cearenses que queriam ouvir algo de sua terra.

Daí ao sucesso que o consagrou foi um pulo: O mote do sertanejo fez sucesso e há 60 anos, cariocas e paulistas conheciam as pelejas daquele homem humilde cuja família ainda passava puros com a seca do sertão.

Apesar do sucesso, o forró pé-de-serra (assim chamado por ter nascido nos pés das serras do sertão do Brasil) só tinha espaço nos bares de esquina dos bairros dos subúrbios do sudeste.

Nasci muito tempo depois desse sucesso, e mesmo com família soteropolitana cresci cheia de preconceitos com a cultura proveniente do Nordeste do nosso país. Adorava um acarajé, um baião de dois, um feijão de corda, mas não conseguia suportar a idéia de ir a um lugar somente para ouvir forró.

O Trio Virgulino veio, o Falamansa estorou e apesar dos constantes convites, nunca cedi às súplicas dos amigos que queriam me arrastar para os forrós da vida com a justificativa de que eu me apaixonaria instantaneamente pelo ritmo marcado e alegre do forró.

Foi somente quando estava à beira de um ataque de nervos, pós-término de namoro, meio-depressiva, que uma amiga finalmente conseguiu me arrastar para o forró, que apesar de lotado, já não estava mais estourado em São Paulo.

Digo e repito: o ditado “cuspiu para o alto, cai na testa” é verdadeiro! Logo virei uma fanática por forró pé-de-serra, passava mais de 12 horas dançando e curtindo a batida de uma zabumba (instrumento típico do forró) bem tocada e logo descobri as incríveis composições do grande véio Lula.

O forró pé-de-serra mudou minha vida e espero que continue mudando vidas para que a memória curta que fez com que o Brasil esquecesse do sucesso “Asa Branca” jamais se esqueça que o forró pé-de-serra é tão patrimônio cultural do Brasil quanto o frevo. Merece festas, memoriais, livros, homenagens sem fim!

Não terminarei meu texto com um ponto final. Deixarei como presente a voz de Luiz Gonzaga para que talvez daqui um tempo, outra pessoa continue meu texto, com a mesma paixão que eu tenho pelo conjunto : triângulo, zabumba e acordeom.