terça-feira, 20 de março de 2007

Beep-beeep!




Eu sempre fui uma defensora da vida na cidade grande. A buzina incessante nos cruzamentos, a correria da vida sempre agitada, muitos carros e muitas pessoas dividindo o mesmo espaço. Nos últimos tempos, porém, tenho ficado impaciente com o transporte público.

Últimos tempos me refiro desde a troca de alguns ônibus por outros mais “novos e modernos”, daqueles “que atendem melhor a demanda da população”. Oras, São Paulo tem uma frota de ônibus de aproximadamente 15 mil para 20 milhões de pessoas, sendo 12 milhões os residentes na capital (o que não faz tanta diferença, já que grande parte dos moradores da grande São Paulo trabalha na cidade).

E todos os passageiros vão apertados em cubículos ínfimos, com espaço apenas para respirar.

Os problemas vão além da má distribuição das linhas de ônibus na cidade. O novo design, que prometia facilitar a vida de deficientes físicos, desfavorece a todos. Uma senhora idosa, sobe com dificuldade os degraus do ônibus. Está procurando um local nos bancos próximos ao motorista, quando este breca de maneira brusca, já que estava em alta velocidade e não viu o farol mudar de verde para vermelho. A senhora idosa leva um grande tombo, pois nos novos ônibus, há uma segunda “escada” (três degraus não são uma escada), parando exatamente na catraca.Todos ajudam a senhora se recompor, enquanto sobra xingamentos para o motorista distraído.

Enquanto isso, no outro lado da catraca, várias pessoas se amontoam no espaço livre onde ficam as portas de saída do ônibus, que parece lotado. Mas não está. Com a aglomeração de passageiros no centro do ônibus, quem entra não consegue passar para o fundo. E na cadeira reservada ao deficiente visual – acompanhado de cão guia – não há ventilação, fazendo com que a pessoa sinta-se em uma sauna nos dias de verão.

Além disso, para se chegar ao fundo do ônibus, é preciso subir mais três degraus, fato que derruba (literalmente) muita gente.

Ao fundo, há mais espaço para as pessoas ficarem em pé, mas a maioria prefere ficar embaixo, já que irão descer logo.

E ainda temos a sorte de não pegar um ônibus bi-articulado, os famosos “sanfona”. Pois nesses, os corredores são tão limitados que mal cabe uma pessoa em pé. São Paulo é uma cidade estreita e mal planejada demais para esses ônibus gigantescos. Já cansei de ver ônibus mudando a rota pelo simples fato de não conseguir entrar em determinada rua.

Fatos como esses, infelizmente cotidianos na vida do paulistano, me fazem pensar: quem projeta os novos ônibus não se locomove de ônibus. Se o fizessem, não os desenhariam dessa maneira. O descaso do poder público para com seus cidadãos não deixa dúvidas de que o cidadão só é importante quando se torna eleitor. E esse mesmo eleitor deve questionar seus representantes, fato esse ainda desacordado na memória da maioria das pessoas.