Em busca da Aldeia perdida
A cidade está rasgando a Mata Atlântica. Eu vi. Deu um medo danado. Mas antes do medo, puta encantamento com a desgraça de (ou seria redenção, o sonho da casa própria realizado) gente que mora no meio do NADA. NADA, mesmo do ponto de vista do meu IDH fudido do Grajaú que, para os muchachos de Higienópolis, já é o nada e pro Cidade Alerta é tudo o que há. Desgraça porque no meio do NADA tem gente que vive uma vida onde todo o resto da cidade deve ser um estereótipo furado.
Depois do terminal de ônibus de Parelheiros, que já é lonjura desmedida, mais 45 minutos sinuosos, constantes, calmos, ligeiros, ar puro e tudo mais. Aí eu pensava: Acabou, acabou a cidade. E não, uma casa, duas, três...VÁRIAS. E não falo de barracos, de favela não. Por onde eu passei de ônibus, era igual a civili..CIVILIZAÇÃO (mordi essa palavra o tempo todo pra não dizê-la e profanar a cidade e sua diversidade, mas agora foi). E depois das casas, um monte de NADA, um monte de Mata Atlântica. E depois casas. E o ônibus, apropriadamente chamado de pau-véio pelo motorista, que chamavam de cacique, ia se desmontando. Fios à vista, barulhos sinistros. Isso é Barragem minha gente, é o cu do sul da Zona Sul de São Paulo.
Aí desembarquei. Um ponto antes do final (no ponto final do Barragem será que se encontra o pote de ouro?).
Um posto da guarda-civil metropolitana (metropolitana?). Na parede um quadro "SELVA", dizia. Lá me disseram "vai reto".
E eu fui e fui e fui e fui e fui e cheguei numa bifurcação e num desespero de chorar. Mas não chorei porque chorar me condenaria a ser Jane e a correr o risco de achar Tarzan. Fui. Em frente. Reto. Até a bifurcação; opção um: Seminário, Beato José de Anchieta; Opção dois: Sem indicação. Titubiei, titubiei e pensei em Deus... caminho errado, mas no seminário me disseram "volta e vai reto". Reto, reto. Um amigo meu um dia disse: Milhões de linhas retas pra formar mais um círculo vicioso.Ok.Ok.
Em frente. Reto... sei lá, nem sei, sei que no meio do NADA, surgia às vezes um funcionário da Eletropaulo, um homem tocando vaca ou um carro branco com um homem dizendo "ei, que gostosinha". Cagaço danado. Uma hora da minha vida pensando que seria um desrespeito com a minha mãe, morrer ali.
Lá no meio do NADA moram uns chineses que criam gansos e uns capiaus que podam árvores de natal.
São Paulo rasga a Mata Atlântica. Eu vi. E não concordo com a foto linda do cabeçalho desse blog. São Paulo não é mais vila. Piratininga cresceu, cresceu.
Quem são essas pessoas que moram no meio do nada, quem será que elas mataram, de quem elas fogem, que prefeito as empurrou pra lá. Que país é esse. Por quê, por quê, meu deus?
Uma hora eu me perguntei: Se aqui ainda é São Paulo, onde fica o Paraná?
Gisele escreve às quintas-feiras aqui. Semana passada fez uma reportagem para seu post sobre a identidade indígena em sampa.Leiam lá, depois de ler aqui.Ou vice-versa. O bom mesmo seria que a Vica tivesse ido lá, pro texto fazer jus a experiência.