domingo, 29 de abril de 2007

N'A melhor cidade (da América do Sul)


Semana que vem tem Virada Cultural aqui na paulicéia. Artistas pra todos os gostos se apresentando de graça por 24 horas pra dar um up na Cidade cada dia mais cinza (já que a lei cidade limpa tá limpando mesmo). Pra manter a coisa andando, a promessa é que o transporte público funcione durante toda a madrugada. Lenta, lentamente, mas funcione.

Eu fui na Virada de novembro de 2005, andei a pé na Luz de madrugada, deitei em duas obras de arte que não tinham essa proposta, cantei com o Tom Zé, dormi no Habbib’s, passei mal, entrei pela primeira vez na Pinacoteca, ri até chorar, presenciei uma tentativa de suicídio/arrombamento de apartamento próprio em busca de macarrão, gostei e desgostei de shows e abracei a Cidade umas vinte vezes. E sobrevivi pra dizer: vai, meu filho, vai que vale a pena. E vai em grupo que a diversão é multiplicada pelo número de acompanhantes.

São Paulo, a Cidade que nunca dorme, não tem ônibus nem metrô de madrugada, nem estabelecimentos que se arrisquem a deixar as portas abertas pra qualquer meliante entrar depois das onze. São Paulo dorme, ronca e baba. Tanto que eu quase achei que esse ano o Kassab não ia deixar ter Virada. Porque cultura pra qualquer um não deve ser uma boa idéia. Mas, uma vez por ano, a Cidade não dorme por amor a coisas mais.

Acho a idéia das vinte e quatro horas de programação diversa espalhada pra quem puder ou quem quiser sensacional. Sensacional, naquele sentido sensacional de mexer os lábios lentamente com ênfase direta nos 'ésses' de sensacional. Como em Avenida Dropsie, que já esteve em cartaz pelas bandas de cá e me apresentou a beleza em um bêbado cômico achar tudo sensacional. Sensacional você democratizar – com lá suas falhas, faltas e defeitos comuns a qualquer idéia posta em prática – a cultura numa Cidade que não tem mais fim, não tem mais fim. Sensacional.

Mesmo que por um lapso, sabe-se lá quantas pessoas se descobrem apaixonadas por poesia, teatro, música, dança, arte. Sabe-se lá quantas vão pela primeira vez se sentir parte de um grupo que pensa junto uma coisa maior que as paredes cinza de concreto que não se esconde mais. Sabe-se lá quantos quebram paradigmas e mudam de vida nessa Virada doida, surto lunático de compaixão pelos que vivem em paranóia. Sabe-se lá. Hoje só quero saber que semana que vem, mais uma vez, a oportunidade de não se saber e se viver volta a nós.


E boa Virada pra você também.


Aline escreve aos domingos e já se prepara, junto com as colegas de blog, pra cobrir o evento mais legal do ano. E como não vai mais postar até lá, achou melhor deixar avisado o que vai sair de casa pensando no sábado. E acha que você devia ir também.

A foto é do Armando Cardoso, que a cedeu sem saber. Armando, se você passar por aqui, saiba que isso foi um elogio e não um uso indevido da sua propriedade intelectual. Para outras fotos dele, clique aqui.