Pro meu lugar, dô cem!
Amanhã é dia Um (ou Primeiro, para os mais ordenados) de Maio. Feriado nacional (tão raro de se presenciar), para uma população economicamente ativa que atinge 51% - segundo dados do IBGE de 2004 - da sociedade (não será comunidade?) brasileira. Sem contar os trabalhadores informais que já nem acreditam nos direitos que uma carteira assinada podem proporcionar. Porém, eu que não trabalho, aproveitarei o feriado da mesma maneira que os passados: seja dormindo, seja gastando o dinheiro dos outros em nome do grande capital.
Conclusão para começar o texto: cá estou eu, preguiçosa tupiniquim avessa às havaianas, ocupando um espaço que não é de moi (considerando, no caso, o feriado como uma entidade nacional, digna de desfiles e outras oferendas e sacrifícios sindicais, falando nisso, qual será o carro sorteado pela CUT este ano? nada como a mobilização para conscientizar o pobre trabalhador brasileiro).
Concluindo a conclusão: Descansarei, nesta Terça, em nome dos outros, que trabalharam por mim, em nome de um capital instável que controla nossas lideranças. Pô...
Assim eu ocupo um lugar que não é meu, da mesma maneira que o mundo tenta ocupar um lugar que não lhe pertence, apesar de estar vago por breves e rotativos segundos. Quer a prova? Entra no ônibus. Tem lugar para sentar? Tinha. Tem lugar para ficar de pé? Não tem mais. Vai para o metrô? Só se for para ocupar seu lugar na fila, que, aliás, é a única reserva de espaço para mais um, exatamente como você. Mas, o que é aquilo? Uma palavra que junta a letra S + E dotada de um acento agudo no e... isso quer dizer que... um lugar! Um lugar à janela! Lá está! Lá está! Eu estou chegando... chegando... chegou! Chegou uma BUNDA apertada numa calça justíssima tamanho 52 na minha frente, tapando todo o brilho que um dia eu, ingenuamente, imaginei ocupar. Sem problemas, só ficarei por mais 9 estações neste vagão mesmo... o que são 9 estações para um bunda que consegue sentar, pagando o mesmo que eu, em nome de um conforto que consegue mobilizar mais gente que um escândalo do mensalão? Ou por um acaso, você viu mais agitação de corpos em Maio (curiosamente também Maio...) de 2005 do que quando vaga um espaço no melhor lugar para colocar seu cotovelo perto da porta? Sempre acreditei nas portas, elas sempre abrem quando a gente quer sair e respirar um pouco do ar poluído que tão porcamente fora filtrado naquela conglomeração...
E quando tudo passa (inclusive a lotação) eu páro e penso: Lugares alheios ocupam o meu, sem que eu saiba onde devo me colocar. Celebro um feriado que não é para mim, uma festa que não foi feita em meu nome, uma roupa que não foi criada para mim, um livro cujo autor nem sabe que eu existo, um garçom que parou na minha mesa porque fica no caminho para o balcão, um ônibus que parou em certa esquina por causa de um ponto estático, parado, firme... e eu lá... esperando a próxima bunda chegar.
EI VOCÊ! Se pertence à classe dos trabalhadores ( falei classe e não partido! hein...) tenho duas coisas para dizer: 1) Parabéns pelo feriado que eu vou aproveitar em seu nome, e, 2) Posso te mandar meu currículo? Eu sei falar no msn e fazer cafezinho...
Vica Prestes trabalha neste blog todas as segundas-feiras, sem remuneração e sem plano odontológico, mas nem por isso processará as idealizadoras deste projeto, que, em vista dos últimos dias, estão piores do que eu... Entonces, que faremos neste feriadão, meninas?
Vica Prestes trabalha neste blog todas as segundas-feiras, sem remuneração e sem plano odontológico, mas nem por isso processará as idealizadoras deste projeto, que, em vista dos últimos dias, estão piores do que eu... Entonces, que faremos neste feriadão, meninas?