sábado, 12 de maio de 2007

O encontro com Bento XVI

Minha família, tanto do lado paterno quanto do materno, possui formação católica. Minhas avós vão à missa todas as semanas, são beatas.

Eu, contrariando a seqüência, não sou adepto de nenhuma religião específica. Tenho meus pensamentos próprios e um lado religioso bem definido, mas que não se encaixam no catolicismo, protestantismo ou qualquer outra vertente. Sou, sim, cristão.

No começo desta semana que passou, recebi uma designação inesperada no estágio: “Rodrigo, você vai cobrir o Encontro do Papa com os Jovens”. Puxa vida! Certamente a cerimônia mais importante que eu acompanharia em quase quatro anos de faculdade. A personalidade mais importante, a maior quantidade de pessoas envolvidas, a maior em divulgação na mídia... em uma palavra: inesquecível.

Grande parte das pessoas para as quais eu contei essa designação que recebi perguntou: “você é católico?”. Respondi sempre gentilmente que não, mas lá no fundo pensava se tal fato fazia muita diferença ou não.

Na quinta-feira, cheguei ao Estádio do Pacaembu às 14h30, quase quatro horas antes da previsão de chegada de Joseph Ratzinger ao local. Acreditava que haveria movimentação ainda pequena nas cercanias do estádio e rapidamente percebi o engano.

Fortíssimo esquema de segurança. Guarda Civil, Polícia Militar, Polícia Federal e Forças Armadas estavam em seus postos, firmes. Para todos os lados que se olhava, podiam-se ver garotos e garotas usando camisetas amarelas com o nome “Bento XVI” estampado. Eram alguns dos 500 mil voluntários inscritos, jovens católicos que estavam ali pelo simples prazer de ajudar na organização.

Ao entrar no complexo, tão acostumado a receber jogos de futebol, notei que a quantidade de pessoas ali dentro lembrava muito aquilo que se encontra no Pacaembu nos dias de clássicos ou jogos importantes. Arquibancadas lotadas. A diferença residia na questão de metade do gramado também estar tomada por fiéis.

E eram pessoas dos mais diferentes tipos. Mulheres, homens, estrangeiros (destaque para o grande número de argentinos e chilenos), freiras, padres, engravatados, em trajes esportivos, deficientes físicos, jornalistas/fotógrafos, equipe de apoio, músicos convidados para tocarem nas horas antecedentes à entrada de Bento XVI no palco. O mais importante? Todos iguais. Ali, naquele momento, indistintos.

Depois de analisar isso, cheguei à resposta daquela dúvida inicial: fosse eu católico ou não, estar ali me transformava numa pessoa tão importante como todas as demais. Deveria haver outros naquele fim de tarde que também não eram católicos, mas se sentiam muito felizes por entrar em contato com uma figura representativa máxima dos ideais de amor e paz.

Descobri, momentos antes do Santo Padre chegar, que também havia gente pouco afeita à bondade nessa cerimônia. Na tentativa de me colocar melhor para tirar fotos do Papa, alguém que certamente não irá para o Céu/Paraíso/Plano Superior roubou-me o celular. Uma tremenda dor de cabeça, sim, mas algo pequeno diante da oportunidade única de ficar próximo de um Papa.

Quando ele chegou, todos, sem exceção, se sentiram bastante emocionados. Nas duas horas que se seguiram muita festa e exaltação do público e as tradicionais palavras de esperança, amor e atenção para com os jovens presentes. No meu caso, durante a cerimônia, foi interessantíssimo ficar deitado no gramado do Pacaembu, olhando para o céu, as estrelas e algumas coisas estranhas (por que não OVNI’s?), enquanto ouvia os dizeres que vinham do palco em formato de pomba.

Foi, em resumo, um privilégio. Daqui a quinze anos, provavelmente estarei no Pacaembu ao lado dos meus filhos, vendo o jogo do Corinthians, e eles possivelmente me perguntarão se fazia muito tempo que eu ia lá assistir as partidas. E, depois do dia 10 de maio de 2005, acredito que eu responderia:
- Sim, muito tempo. Mas pode ter certeza que a coisa mais importante que eu vi aqui não foi o Corinthians jogar... quando eu tinha 20 anos, eu trabalhava num lugar, e me pediram pra vir aqui e....................

Rodrigo Furlan é estudante de jornalismo e cobriu o "Encontro dos Jovens com o Papa". Uma experiência que leverá para o resto de sua vida.