terça-feira, 17 de abril de 2007

O lixo nosso de cada dia

Aviso aos navegantes: deixe o seu orgulho paulistano de lado.

Aproveitando os comentários que o post da Vica gerou, começo a falar da greve dos lixeiros, iniciada na última sexta. Não vou entrar nos méritos do porquê da greve, quero falar do resultado dela na cidade.

Passeando pelas ruas, era fácil perceber o lixo acumulando, revirado, jogado às traças e o odor tão característico. Após as feiras e, com o calor, nem se fala. E, aposto que muitos ficaram resmungando da greve, que é um horror deixar a cidade assim tão suja.

Acho que poucos perceberam que esse lixo mostra quem somos. Sim, somos lixo. Somos o fedor, a escória, a merda que ficou nas ruas esses dias todos. Parafraseando um diálogo do filme “O Cheiro do Ralo”, a merda não sai da gente? Então, o fedor é nosso.

Em quatro dias de paralisação acumulamos cinco mil toneladas de lixo. Tenho a impressão de que os varredores e garis fazem mágica, onde alocar cinco mil toneladas? Não poderíamos produzir menos lixo, reaproveitar melhor as sobras de comida, não consumir tantos embalados. Ajudar na reciclagem, não jogar embalagem de balas e chicletes na rua, e nem bitucas de cigarro. E, muito menos, sacos de viagem do Mc Donald’s pelas janelas dos ônibus. Além de melhorar a nossa forçada convivência, mantém a cidade limpa e pode até melhorar os dias de chuva. Ou será que alguém piamente acredita que o bueiro entope somente porque “o governo” (entre aspas, pois já virou divindade, ninguém sabe se existe) não faz nada?

E a nossa sujeira é refletida nos nossos governantes. Um amigo ouviu uma senhora dizer no ônibus:

- Esse Kassab é um idiota, quem colocou ele no poder?

Alguém precisa de um espelho?

A gente finge ser cidadão em outubro, votando. E eles fingem governar ao impor que os feirantes não gritem nas feiras – e voltar atrás ao perceber que caiu no ridículo.


Bianca escreve às terças e está criando uma teoria de que há, pelo menos, cinco baratas vivendo nos ônibus de São Paulo. E elas gostam de passear pelos bancos onde sentamos, apesar de adorarem o ventinho perto das portas.