O tempo e a crise
Desde que começaram a chegar uns europeus comunistas, anarquistas e malucões pra trabalhar na terra brasilis, alguém percebeu que uma forma de se ver ouvido era pela política. Esse e outro alguém se juntaram e formaram o primeiro, o segundo e o terceiro movimento social. Em algum momento entre aquele e o nosso, os jovens, os intelectuais, os pobres, os excluídos e alguns incluídos com tempo livre entraram na dança, mostrando que a participação popular tinha força nas decisões de quem detém os mandatos. E mais ou menos assim apareceu o movimento social em São Paulo.
A participação popular evoluiu um bocado nas décadas que seguiram, em número de militantes, organização, reivindicações e força política. Mas não só comunistas, anarquistas e malucões se encontravam pra protestar. Cristãos, ricos, tucanos (que ainda não chamavam assim) e conservadores, descobrindo a tendência, gostaram e adaptaram o movimento para que lhes coubesse ação. E então, em 31 de março de 1964, os militares, já não suportando o Jango e o tal perigo vermelho, com o consentimento dos EUA e de uma classe média preocupada com o desenvolvimento econômico, tomaram o país com tanques e sem mortos. Os mortos vieram nos anos que seguiram, aos montes e em muitos casos por simplesmente divergirem em opinião e atitude do regime instaurado.
Por mais de vinte anos, o Brasil se viu enclausurado, calado e ignorado por seus próprios governantes, preocupados que estavam com o crescimento econômico do país do futuro e com a manutenção de um sistema violento, totalitário e excludente. Na tentativa de alienar a população, oposicionistas, intelectuais, estudantes e a mídia politizada eram perseguidos e mantidos longe dos olhos do povo. Mesmo com censura e repressão, a orientação popular contrária à ditadura foi dando frutos. Depois de muita luta e um empurrãozinho gringo, em 1985, afinal ou oficialmente, era findo o regime militar. Já com perdas ao pensamento crítico, a população civil, organizada ou não, comemorou.
Vinte e dois anos depois do fim e quarenta e três anos depois do começo, aqui estamos, sem censura, com um governo democrático e uma população politicamente ativa.
População essa que, quando sai às ruas e pára o trânsito, recebe insultos e paulada da polícia que reprime protesto antes mesmo de saber se vai ficar violento. População que é convidada a se retirar da Câmara dos Vereadores por participar. População que dorme em frente à Prefeitura implorando que apenas seja ouvida. População que agora tem lugares restritos para aparecer. E que precisa lidar com as grades que o Kassab colocou no meio da Paulista, sutilmente, para dificultar a organização.
O movimento social vivencia as mesmas dificuldades de visibilidade que sempre encontrou, e agora ainda precisa lidar com a indisposição de um governo pefelista e uma grande imprensa que ignora a democracia como participação do cidadão além do momento do voto. A TV mostra o prefeito chamando um trabalhador de vagabundo, mas esquece que, marginalizando a atuação de outros tantos milhares, o mal é ainda maior. Há, como antes, conscientização e alienação. A segunda, como antes, anda alcançando muito mais gente.
Enquanto isso, estudantes protestam contra o aumento injustificado de 15% na passagem de ônibus. Dentro do transporte coletivo, ouve-se a reclamação: “e vão atrapalhar a nossa vida por causa de 30 centavos?”.
Bom trabalho, ditadura.
A participação popular evoluiu um bocado nas décadas que seguiram, em número de militantes, organização, reivindicações e força política. Mas não só comunistas, anarquistas e malucões se encontravam pra protestar. Cristãos, ricos, tucanos (que ainda não chamavam assim) e conservadores, descobrindo a tendência, gostaram e adaptaram o movimento para que lhes coubesse ação. E então, em 31 de março de 1964, os militares, já não suportando o Jango e o tal perigo vermelho, com o consentimento dos EUA e de uma classe média preocupada com o desenvolvimento econômico, tomaram o país com tanques e sem mortos. Os mortos vieram nos anos que seguiram, aos montes e em muitos casos por simplesmente divergirem em opinião e atitude do regime instaurado.
Por mais de vinte anos, o Brasil se viu enclausurado, calado e ignorado por seus próprios governantes, preocupados que estavam com o crescimento econômico do país do futuro e com a manutenção de um sistema violento, totalitário e excludente. Na tentativa de alienar a população, oposicionistas, intelectuais, estudantes e a mídia politizada eram perseguidos e mantidos longe dos olhos do povo. Mesmo com censura e repressão, a orientação popular contrária à ditadura foi dando frutos. Depois de muita luta e um empurrãozinho gringo, em 1985, afinal ou oficialmente, era findo o regime militar. Já com perdas ao pensamento crítico, a população civil, organizada ou não, comemorou.
Vinte e dois anos depois do fim e quarenta e três anos depois do começo, aqui estamos, sem censura, com um governo democrático e uma população politicamente ativa.
População essa que, quando sai às ruas e pára o trânsito, recebe insultos e paulada da polícia que reprime protesto antes mesmo de saber se vai ficar violento. População que é convidada a se retirar da Câmara dos Vereadores por participar. População que dorme em frente à Prefeitura implorando que apenas seja ouvida. População que agora tem lugares restritos para aparecer. E que precisa lidar com as grades que o Kassab colocou no meio da Paulista, sutilmente, para dificultar a organização.
O movimento social vivencia as mesmas dificuldades de visibilidade que sempre encontrou, e agora ainda precisa lidar com a indisposição de um governo pefelista e uma grande imprensa que ignora a democracia como participação do cidadão além do momento do voto. A TV mostra o prefeito chamando um trabalhador de vagabundo, mas esquece que, marginalizando a atuação de outros tantos milhares, o mal é ainda maior. Há, como antes, conscientização e alienação. A segunda, como antes, anda alcançando muito mais gente.
Enquanto isso, estudantes protestam contra o aumento injustificado de 15% na passagem de ônibus. Dentro do transporte coletivo, ouve-se a reclamação: “e vão atrapalhar a nossa vida por causa de 30 centavos?”.
Bom trabalho, ditadura.
Aline escreve aos domingos sobre coisas que não entende.

