segunda-feira, 2 de abril de 2007

Por um voto de pobreza

sábado pela manhã, metrô sentido Palmeiras-Barra Funda, eu em pé encostada na parede do vagão até que vazio, só com as cadeiras ocupadas e, talvez, mais uns dois em pé.

um senhor velhinho senta-se no banco cinza. de repente ele se levanta e vai sentar-se do outro lado. "não se fazem mais velhinhos como antigamente" seria a frase deste post se eu já não tivesse pensado em outra: "não se fazem mais pessoas como antigamente".

explico: ao lado desse senhor havia uma mãe (meio cinquetona, sessentona) e sua filha (meio trintona). a filha abaixa a cabeça e vomita ao lado do velhinho (aí ele se muda de lugar). ok, ela passou mal, certo? ela abaixa a cabeça de novo. e o vômito escorre pelo vagão. "Cuidado, moça, vai sujar seu pé". a moça ao meu lado (uns 4 metros longe da filha) agradece e joga suas pernas para frente. e o trem pára na estação. e a filha? continua lá. fecham-se as portas. e ela vomita. e suja mais ainda o vagão, entrando numa sacola e passando por vários tênis. outra estação. e o vômito ali, e ninguém parece se importar. outra estação. vou até lá e pergunto se a filha quer ajuda para sair, pedir ajuda a alguém da companhia. ela me responde que está mal do estômago, "desde ontem" a mãe complementa. e não quer sair, tomar um ar puro? não, ela está indo para o hospital. na sé. "mas faltam ainda 3 estações para a sé". "eu sei". "e a sua filha está vomitando". "porque está ruim do estômago". "mas está sujando o vagão, melhor sair e pedir ajuda". "ela é minha filha e só vai descer na sé". "este é um vagão público que vai até a barra funda". "tá achando ruim sai você". "este é um espaço público e creio que o público não quer ficar vendo o vômito da tua filha". "não vejo ninguém mais reclamar, só a riquinha aí". é verdade... ninguém mais reclamou. o vômito não incomoda. mas eu, eu incomodo.

finalmente as portas se abrem na estação Bresser, e a riquinha desce. riquinha privatizada, fora de qualquer domínio público, que desce e espera o próximo trem.

Nota: eu não queria escrever sobre isso. mas escrevi. posso me esconder atrás de um poema? então deixa eu jogar drummond...

Atentado CDA

O cachorro em convulsões rola escada abaixo.
Seu vômito verde
colore de morte os degraus.
Comeu bola.
Nunca se saberá quem matou.
O assassino invisível golpeia
a orgulhosa família desarmada.


Entenda? Como quiser...