Em um dia de total descanso do mundo, ontem assisti ao documentário “Surplus”, de Erik Gandini, que fala do consumismo desenfreado, sempre levantando a questão “estamos felizes consumindo tudo isso?”.
Em certo ponto do documentário, lembrei de uma conversa informal que tive no sábado. Estava no terminal de ônibus da Vila Mariana quando uma mulher começou a conversar comigo. Entre o papo sobre o filho, o ex-marido interesseiro e violência contra a mulher, ela comentou que tinha acabado de sair do Shopping Santa Cruz, pois queria comprar uma sandália nova. Mas não tinha achado uma que lhe agradasse e a que usava estava lhe doendo muito os pés. Nas palavras dela: (a sandália) é de boa qualidade, linda, mas não dá pra andar com esse salto alto em São Paulo!
É, convenhamos... impossível. Mas será que ela também não poderia ter saído com um tênis na bolsa para trocar o sapato que machuca o pé e ela sabe disso? Fiquei pensando se não foi mais um pretexto para comprar...
E, quando se fala em compras, aqui em São Paulo, logo lembramos de shopping centers. Nunca fui freqüentadora de shopping, mas passei a usá-los apenas para almoçar. E acho incrível como eles simplesmente lotam em finais de semana ou em dia de chuvas. Paulistano não tem o que fazer, vai para algum shopping “passear”. E sempre acaba comprando um souvenir; confesso que nunca vi alguém sair de shopping sem ter consumido absolutamente nada.
E impressionante como há várias lojas vendendo... a mesma coisa. Não sei se as pessoas percebem, mas as lojas de shopping são todas iguais. Até as vendedoras parecem ter o mesmo rosto. No final, sai todo mundo do shopping com o mesmo vestido da moda, com o mesmo sapato, com as mesmas blusinhas... só muda a cor. E voltamos a perguntar: somos felizes assim?
Foto: Wang Qinsong “Requesting Buddha 1"
Bianca escreve às terças e, apesar de tudo, adorou o filme "O Diabo Veste Prada".
