"Rádia Esportiva FM. A rádia que eu ouvo!"
O Estúdio Van de música é um dos maiores de São Paulo. Já produziu sucessos como o Forró 100 Preconceito, o Baratinha do Forró, Gabriel, O Anjo do Forró e Ramon e Seus Teclados... Nunca ouviu falar? Então você não está antenado no que toca nas rádios comunitárias e piratas da zona sul de São Paulo.
O Estúdio Van produz em média dez CDs por mês. O dono, Elivelton Patrício, assina a direção musical e toca vários instrumentos em quase todos eles. "Tem gente que chega aqui com uma cartinha pra mãe e eu tenho que fazer daquilo música". Mas isso não tira o mérito das canções e Van, como é conhecido no meio musical, se sensibiliza. "O que eu acho bonito é que o cara chega aqui, às vezes, sem saber tocar um acorde, mas traz músicas muito bonitas, muito bem estruturadas, com quebras tonais e tudo".
Cada hora de produção do CD custa 30 reais; cada faixa leva de três a quatro horas para ficar pronta. "Se eu disser que levo mais de quatro horas pra produzir uma faixa com a tecnologia de hoje, o cara vai embora". Faixas produzidas, capa feita (no estúdio também é feita a foto e o design do encarte). O preço final gira em torno de 1.500 reais, só incluso o CD matriz; mas o cliente pode fazer as cópias com o Van também. A tiragem média é de 300 cópias,feitas em CD-R. Se a tiragem passar de mil, as cópias são prensadas em Manaus.
"Feitas as cópias, eu entrego pro artista e dou boa sorte". Van não se envolve na divulgação do CD, apesar de conhecer todo mundo das rádios. Ele acha que "esse ramo da distribuição é meio mafioso". Segundo ele, "muitos produtores vendem um pacote de divulgação nacional para os artistas e acabam divulgando em uma, duas rádios por aí". Para evitar cobrança de resultados posteriores, ele não se envolve mesmo. Não tem sequer os telefones das rádios (infelizmente, porque eu precisava e o Elivelton era minha esperança. As emissoras não divulgam o telefone durante a programação, provavelmente por estarem em situação ilegal)
Perguntado sobre o que é o sucesso para uma banda produzida por ele, respondeu: "sucesso pra eles é vender 1,2,3,4,5 mil discos e converter o cachê de 300 para 1000 reais numa noite".
Cinco mil cópias parece pouco? Não é. Com esse número e tocando em rádios e diversas casas que fazem a noite da periferia paulistana, as bandas, os cantores e seus teclados ficam muitíssimo conhecidos. Pelo menos nas suas comunidades.
Eu mesma sei um monte de músicas de cor. Tenho uma vizinha que mora a duas ruas daqui que tem todos os grandes sucessos e faz questão de divulgar para todo mundo que quer e não quer ouvir.
Dê uma zappiada no dial do seu aparelho de som, procure a Esportiva Fm. O título deste post é a vinheta da emissora.
E viva a Música Popular Brasileira e a indústria fonográfica alternativa (e o Tom Zé, pelo amor de deus).
Gisele Brito escreve às quintas neste blog e hoje já se prepara para os festejos de sua vizinha no feriado prolongado.