domingo, 6 de maio de 2007

Para onde segue o fluxo e – Morte e vida Stanley

Desde às seis da tarde de ontem, o contingente ávido por eventos que por essas bandas quase não se vê tomou os ônibus de São Paulo com as perguntas mais variadas.
“O Terminal Bandeira é perto do Anhangabaú?”
“Pára perto do Teatro Municipal?”
“Passa na Sé?”

Perguntas cruciais que levaram MUITA gente até o centrão da Cidade grande. Muita gente que, percebia-se, não sabia muito bem como andar por ali. Mas como o ser humano em bando se sente seguro e havia, palco sim palco não, três ou quatro outros seres humanos com camisas amarelas anunciando “Posso ajudar? Can I help you?”, a gente estrangeira ao centro caminhava a caminho (sim) da felicidade na rota da Virada.

As estátuas da Praça Ramos foram preparadas com bóias salva-vidas para sobreviver ao mar de gente. Literalmente. Tanto as bóias quanto o mar. Os banheiros de todos os estabelecimentos abertos sofriam com as filas de mulheres (homem não faz fila, já viu?) com bafo de cerveja.

A correnteza (ou a maré) seguia fluxos intensos rumo a momentos específicos. Teatro Mágico e narizes de palhaço. Nação Zumbi e óculos escuros à meia-noite. E a partir daí, não posso mais dizer, por estar ocupada em um momento drama-pessoal-do-interesse-de-ninguém que me impediu de acompanhar o resto da noite no espaço de maior concentração de shows.

Mas provavelmente assim, durante vinte e quatro horas e três milhões e meio de pessoas, São Paulo viu e ouviu de tudo. De tudo mesmo. Só que, às vezes, o tudo ficou escondidinho no meio do nada.

Capítulo II

Você, cidadão paulistano que lê, freqüenta ou passa os olhos por esse blog que nos prende, conhece Pedreira?
Eu não conhecia. E foi pra lá que rumei, hoje à tarde, depois de retomar uma das perguntas variadas que marcaram o fim-de-semana.
“Passa na Estrada do Alvarenga?”

Vi, depois de bem acomodada no transporte coletivo que quase se podia chamar de ônibus, mais uma penca de gente fazer a mesma pergunta. E toda aquela gente, estrangeira à periferia zona sul da capital nossa de todos os dias, tinha um propósito claro: Cordel do Fogo Encantado.

E o lugar onde todos nós descemos, minha gente, é presente só pra quem merece.

A tal Estrada do Alvarenga tem um parquinho de diversões com barco Viking, casa mal-assombrada e tudo o mais que faz um parque de respeito. Encostada à grade que mantinha fora do parque as pessoas de bicicleta, por um caminho de terra se avistava um fluxo de gente. Não era um mar nem tinha correnteza, mas levava a um córrego que se teve de atravessar via pinguela. E depois da travessia – perigosíssima, porque não? –minutos mais de caminhada meio às cegas, meio à intuição.

O site da Virada avisou o local do show: “Sete campos” – de futebol. Com campeonato arrumadinho, uniformizado. A gente de fora com propósito bem-definido passou pelos seis campos – em hora de jogo! – pra chegar ao último dos que se anunciava.

E depois de quase uma hora de atraso, e por quase duas horas de batucada róquênrôu, a gente de fora e a gente de dentro dali se tomou de morte e vida Stanley. O palco, montado no último dos espaços de areia poeira, rodeado de casinhas de ocupações, com vista para favelas que eu não sei o nome, com um céu – um céu! – de abril em pleno maio, brindava aos donos de bares, aos vizinhos evangélicos e às crianças que dançavam e catavam as latas de cerveja da gente que cantava aos oím do seu amor.

(O palco do Pedreira ia ter cinco eventos. A Márcia que mora lá falou que o único que durou mesmo até ali tinha sido o do Cordel. Ela achou a idéia legal para a comunidade, mas disse que ninguém chegou a informar a vizinhança que ali ia virar o que virou. O show para as crianças foi curto, o resto do dia foi só uma hora ou pouco mais de atração. E, diferente dos shows do centro, a comunidade teve que lidar com atrasos consideráveis à programação.)

E o Cordel se despediu quando o sol baixou. (Mas a Virada continuou até a Zélia Duncan. Vai entender.)


Aline tentou escrever ainda esse domingo. Será que deu?